Futuras Vanguardas

Fotógrafo: João Lopes Curadoria: Frederico Lopes


Diante do infinito processo de construção, desconstrução e reconstrução de valores estéticos, morais e econômicos, o desenvolvimento tecnológico reivindica para si o poder de inaugurar novas perspectivas e possibilidades de ler e interpretar o mundo através de aparatos cada vez mais engenhosos e sofisticados. Esse desenvolvimento é, em si, uma busca que explora aspectos frágeis da existência humana, que carecem de atenção e cuidado, ou que colocam em posição de destaque outros olhares sobre a maneira como o homem em sociedade se relaciona. No caso da produção de imagens, a busca pela representação da realidade já foi explorada em diversos momentos históricos com distintos objetivos e, no caso das artes, a fotografia atuou como uma ferramenta extremamente valiosa e provocadora.

Entendendo a fotografia como uma espécie de impressão da realidade, seu desenvolvimento representou um divisor de águas na maneira como as imagens eram produzidas até meados do século XIX. A partir daí, as pesquisas em produção de imagens fotográficas impulsiona o desenvolvimento de novos aparatos e outros modos de pensar a representação a partir do ato fotográfico. Em 1849, o inglês David Brewster, descobre a fotografia estereoscópica.

A fotografia estereoscópica é uma forma de fotografia tridimensional obtida por meio de uma câmera com duas lentes que reproduzem duas imagens ligeiramente diferentes de um mesmo objeto, permitindo que o fenômeno da visão binocular humana converta as duas imagens em apenas uma, com ilusão tridimensional. 

No Brasil, a técnica chega por volta de 1855 e encontra no Rio de Janeiro sua principal morada, popularizando-se- por meio de figurinhas e cartões colecionáveis. Por outro lado, a produção de tais fotos se constituía como um privilégio de poucos. 

Admirado com a beleza das fotografias e com a sensação proporcionada por tal invento, João Lopes Lisboa, começa, a partir de 1947, a produzir fotografias estereoscópicas em Juiz de Fora, construindo um rico acervo, tanto em termos de documentação histórica quanto de valores artísticos. 

Observando uma lacuna histórica na documentação de registros estereoscópicos na cidade de Juiz de Fora, bem como a escassez de relatos que identificam os atores envolvidos em tais práticas, o Museu de Artes e ofícios Bodoque apresenta, a partir da coleção de fotografias estereoscópicas de João Lopes presentes em seu acervo, um recorte de imagens estereoscópicas produzidas em Juiz de Fora entre as décadas de 1940 e 1950. As vistas produzidas pelo fotógrafo amador, denotam a influência que a nova potencialidade técnica exerceu sobre o olhar fotográfico, tendo em vista que as imagens são pensadas para acentuar a sensação imersão e tridimensionalidade ao posicioná-las no visor estereoscópico.

Celebrando a 14 Primavera de Museus e a inauguração do MAOB, esperamos que a exposição contribua para que novos olhares sejam lançados para o desenvolvimento da técnica na cidade, investigando parte importante da história da fotografia local e identificando outros atores sociais como Rafael Sansão, Wilson Beraldo, Hameleto Fellet e sua esposa (citados pelo senhor João em entrevista para documentação de história oral em 2012), que encontravam na prática da fotografia estereoscópica uma maneira sensível de registrar seus olhares sobre a cidade.

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“A estereoscopia permite dar aos olhos, a partir de duas imagens planas ligeiramente diferentes, a impressão do relevo.”

As vistas estereoscópicas dos amadores têm a vantagem de ser extremamente evocadoras e haverá sempre interesse, para acentuar o efeito do relevo em fotografar um primeiro plano ao mesmo tempo que o assunto principal.

“Com a fusão das imagens, temos uma experiência virtual onde perdemos a percepção da distância em que as duas fotografias estão de nossos olhos, para ganharmos um olhar psicológico, envolto numa ilusão de espaço onde a sensação de presença, perspectiva e volume tem dimensões aparentemente reais.”

PARENTE, José Inácio

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Para João Lopes, sua atividade como fotógrafo sempre foi autoclassificada, essencialmente, como amadora, ou seja, nunca houve qualquer relação pecuniária do fotógrafo para com a fotografia. Sentia-se profundamente realizado quando a fotografia agradava o fotografado e os demais familiares e, com gosto, fazia questão de presentea-los com as imagens produzidas. 

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Ao longo de sua trajetória como fotógrafo amador, senhor João nunca teve pretensão alguma de transformar tal atividade em ofício rentavél.

Observa-se, que existe nas fotografias uma boa percepção por parte do fotógrafo com relação à captação da luz e enquadramento, fazendo com que as fotografias sejam, de fato, bastante sofisticadas no que se refere à questões estéticas

Algumas imagens são, com efeito minuciosamente arquitetadas de modo a produzir uma amplificação do efeito tridimensional. Nota-se, por exemplo, que em determinados casos o fotógrafo coloca separadamente figuras ou elementos em planos distintos, promovendo, nesse sentido, uma previsão mais clara do efeito de relevo.

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